Maus resultados nos exames de Português.
Quem se espanta?
Post escrito no iPad, ainda mais" rascunho "do que é habitual!
Leio várias explicações nos jornais da parte de responsáveis políticos, de especialistas, de jornalistas (todos falamos quando se trata do ensino do Português).
Com a legitimidade que me dá o facto de ter ensinado a ler e escrever ( nomeadamente escritos académicos) a algumas centenas de alunos, do básico ao superior, confesso que não estou nada admirada.
De férias, confesso que não analisei as provas ( irei fazê -lo) mas independentemente destas, há explicações que se podem dar.
Primeira razão: uma geração de professores com ótima formação aposentou-se. Ou melhor sentiu- se obrigada a aposentar- se. Depois de terem entrado na Universidade antes do 25 de Abril, depois de terem sido bons alunos, de terem começado cedo a trabalhar ( e foram privilegiados porque só alguns ( com mais posses ) entravam no ensino superior depois de provas de admissão complicadas), foram à guerra do Ultramar, correram o país para efectivar, fizeram estágios, formações, mestrados, doutoramentos, no país ... mas muitos no estrangeiro ... Desenvolveram projectos no âmbito de programas europeus... Empenharam- se e... Depois vieram avaliações muitas vezes injustas, vieram as formatações de professores e alunos ... E as ameaças de se verem sem as reformas a que pensavam ter direito. .. e os professores saíram tristes... Com pouca vontade de voltar à Escola!
E ficaram os outros ( há muitos bons também), os " rápidos" ( designação de David Lodge) que não tiveram a mesma formação ( nem cientifica, nem pedagógica), que não puderam ou não quiseram aprender com os que partiam... Estes fazem planificações formatadas, substituem colegas com as planificações destes - alguma vez eu era capaz de dar uma aula com a planificação de um colega? Recorrem a coleções de testes das editoras para treinar alunos para avaliações e exames ( o treino é uma componente do processo, mas há outras...). Preenchem papéis...reúnem reuniões... Mostram que estão na escola! Trancados! Não podem ir a colóquios, congressos, formações ( a não ser os formatados)! Têm muitas razões para estar motivados!
Segunda razão: o número de alunos por turma aumentou. A pressão dos pais, directores, ministério aumentou... A educação dos meninos ( alguns) não melhorou! Só dá mesmo para fazer fichas ou testes das coleções... Como dar a palavra a 30 ou mais alunos numa sala? Sai reforçada a lei dos dois terços para o professor, um terço do tempo para os alunos a dividir por 30...
Terceira razão: o tempo para Português aumentou, mas para fazer mais do mesmo. Onde está uma leitura de " as línguas nas outras matérias" do Conselho da Europa nas indicações do Ministério? As "metas" deveriam ter tido em conta a Plataforma para a educação plurilingue, mas quem decide parece ignorar estes documentos.
Quarta razão: o aplicacionismo literário e linguístico patente no "dicionário terminológico " que só é utilizável por quem tem formação nestas áreas. E por muitos exibicionistas ! E criou, ao arrepio das recomendações europeias, dificuldades na educação plurilingue, no ensino das outras línguas e na comunicação nas outras disciplinas... Sem falar na baralhação dos pais! Até sou linguista e de Ciências da Educação, mas sou didacta e continuo a ser professora de línguas!
E assim... Quem se espanta dos resultados das escolas de referência dada a importância dos explicadores ou dos dos meninos dos colégios!
E, no entanto, há tanto trabalho feito no ensino do Português que está a ser deitado ao lixo! Por exemplo, por favor, retirem dos sites desativados a documentação do PNEP. Significou muito trabalho, muita dedicação, muita formação... E os resultados dos testes internacionais estavam a mostrar que valeu a pena! Há muitos materiais, programas... Nem é preciso pagar a novas equipas.
Tempos difíceis para professores e alunos!