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quinta-feira, 31 de março de 2011

Exploração da televisão (Internet) ou do livro e operações cognitivas

 Ferrão Tavares.  Escola e televisão: olhares cruzados, Plátano Editora

Extracto  desformatado e  actualizado

O sucesso escolar depende em grande parte da capacidade que os alunos têm de verbalizar operações como observar e reconhecer, comparar, sintetizar, contextualizar, etc., a partir dos diferentes suportes que encontram no seu quotidiano. Desenvolvemos algumas considerações sobre as operações em questão e damos exemplos de instruções que podem levar à mobilização destas operações a partir da televisão.


OBSERVAR/RECONHECER

Ler o ecrã da televisão implica, em primeiro lugar, reconhecer o dispositivo discursivo do canal em questão: situação do apresentador no ecrã, janelas, legendas... som, música, voz.
São estas as primeiras etapas do processo que exigem competências referencial, sociocultural, discursiva e mesmo linguística por parte do telespectador-aprendente que observa uma montagem plurilingue da televisão.

Estas operações cognitivas que se traduzem em produções em língua materna podem ser integradas no que passaremos a denominar de Educação linguística, de language awareness. Assim, a televisão contribui para uma sensibilização para as outras línguas. As línguas estrangeiras constituem deste modo um terreno comum à televisão e à escola. (...) O facto de os canais de televisão não dobrarem os programas é um factor muito importante no desenvolvimento de competências plurilingues e pluriculturais. Mesmo nos telejornais, as línguas são utilizadas no seu contexto dada a possibilidade de recorrer a legendas. A criança habitua-se a diferentes ritmos, diferentes sonoridades, diferentes débitos, ainda que predomine o inglês. Procede a uma aquisição ou a uma aprendizagem por impregnação. E, além disso, as línguas são faladas em situação, o que torna possível a entrada simultânea das culturas respectivas.
Fazer observar alguns segundos de uma montagem com um extracto de jornal televisivo (depoimentos em língua estrangeira), anúncio (há alguns anúncios plurilingues)... Parar a imagem e formular as seguintes perguntas:
O que é que viram? Pessoas, objectos? Cores? Suporte escrito? Em que parte do ecrã? Quantas janelas há no ecrã?

Que línguas são faladas? Porquê? Que palavras conseguiram identificar?

Fornecer uma lista com algumas palavras. Pedir aos alunos que as leiam antes da observação:
Nesta lista há palavras também escritas no ecrã? Reconhecem palavras que tenham sido ditas?

ANTECIPAR

Antecipar o sentido, formular hipóteses são operações que estes aprendentes podem desenvolver.
Com o título X, de que tratará o programa/ emissão...?

Se for um programa de meteorologia, quem verão? O que verão na imagem?
Haverá símbolos? Quais?

Fez o levantamento de símbolos da meteorologia? São iguais aos dos canais nacionais?

Se for um concurso....

Os concursos são óptimos para reflectir sobre rituais sociais, regras de cortesia... Antes da observação, dizer aos alunos que vão observar três minutos de um programa. Levá-los a formular hipóteses:

 Qual será o tema das perguntas? Os concorrentes apresentam-se? Como é que se apresentam?

Ex.: num concurso, como é que a apresentadora tratará os concorrentes: com cortesia, será simpática, agressiva?
Se for um telejornal...
Que imagens poderão ser projectadas para acompanhar um texto ouvido/lido/escrito? Haverá convidados? Especialistas? Testemunhas?

LOCALIZAR/ CONTEXTUALIZAR


Uma das mudanças cognitivas que poderá estar a dar-se nas crianças dos ecrãs prende-se com o tratamento do tempo e do espaço: perdem a capacidade de distinguir factos remotos com factos quase presentes. Por apresentarem muitas vezes os factos fragmentados, sem a preocupação de procederem à sua contextualização, os media são acusados de apresentar uma cultura mosaico.

Fornecer listas de palavras, um mapa da Europa, de Portugal (dependendo do que se pretende que os alunos localizem). Observar um extracto, por exemplo, de jornal televisivo.

Na lista seguinte, sublinhe os termos que leu / ouviu. De que países se fala?

Localize-os no mapa. Em que região? Norte? Sul? Quantos quilómetros separam essa cidade da sua? É a primeira vez que se fala sobre... De que acontecimentos se fala? Sublinhe dois desses acontecimentos. O que é que sabe sobre o país, pessoa em questão? Fala-se de factos? Quais as consequências?

RELACIONAR

Evidentemente, a contextualização passa pela necessidade de relacionar. Observar extractos de «famílias» de programas (dois ou três extractos do início do jornal televisivo em dois ou mais canais, casamento de duas ou mais figuras públicas, catástrofes...)


Procure semelhanças entre os programas... Quais são as palavras dos títulos do sumário retomadas no desenvolvimento? Que palavras não são visíveis? Que objectos vistos não são mencionados oralmente? Compare o discurso do apresentador com o do especialista de serviço. Que informações foram acrescentadas?
O que é comum a estas quatro notícias (casamentos de pessoas conhecidas)? De que se fala nos quatro casos? Compare também outras famílias de acontecimentos: escândalo financeiro?; catástrofe?; compra de jogadores de futebol?


CLASSIFICAR/HIERARQUIZAR

A quantidade de informação disponível obriga a operações de selecção, de estruturação. Ora, até aqui, a escola tem fornecido a informação ao aluno pronta a consumir. Os conteúdos são apresentados de maneira fragmentada, estabelece-se uma progressão… As fotocópias só acentuaram esta prática. Os manuais já apresentam os resumos por onde se deve estudar. Não há necessidade de ler as obras literárias, já que os resumos permitem fazer os exames de 12º ano.

Os alunos não precisam de procurar a informação, de encontrar critérios para a avaliar. Como não hão-de perder-se na Internet se não aprenderam a seleccionar?


Integrar a informação implica que o aluno possua conhecimentos. A memorização é necessária. Não visa apenas a reprodução dos conhecimentos, de um modo mimético, acrítico, mas também a integração.

Dar lista de títulos. Pedir aos alunos para seleccionarem os títulos mais importantes e para os ordenarem de acordo com a sua importância.

Classifique os títulos seguintes em rubricas: estrangeiro, desporto, educação...
Ordene a seguinte sequência de notícias. Como as hierarquizou? Compare a sua lista e os seus critérios com a lista e os critérios dos seus colegas (número de pessoas envolvidas, proximidade geográfica, relação com os seus interesses, repercussões para o mundo, países... ).
Estabelecer hierarquias de títulos

Os alunos estabelecem a agenda e discutem os critérios: impacto, número de pessoas envolvidas, proximidade geográfica, positivo antes de negativo, consequências, relações com os seus interesses...
Os alunos comparam a sua lista com a lista feita pelos colegas.

INTERPRETAR

A interpretação implica que o aluno disponha de instrumentos de compreensão que foram adquiridos nas fases precedentes. Nesta fase, o aluno pode chegar a conclusões, verificar se as hipóteses que formulou nos exercícios precedentes se confirmam.

A que conclusões chegou?
Compare esses dados com as hipóteses que formulou. Surpresas? O que pensa a propósito de...? Que sentido atribui a...?


COMPARAR COM OUTROS SUPORTES

Tratar a informação implica tomar decisões, saber tratar as fontes de informação.
O tratamento da multimodalidade da informação implica a compreensão de linguagens híbridas, de novas linguagens.

Esta fase implica por isso a mobilização de todas as operações atrás apresentadas.


Observar um extracto da programação televisiva e o site correspondente. Procurar os mesmos títulos na imprensa escrita e on-line.

Que palavras são ditas, podem ser lidas no site?Que títulos? São os mesmos? (COMPARAR)
Compare os dados obtidos com o tratamento dado aos mesmos acontecimentos pela imprensa escrita.
Em que página do jornal? (LOCALIZAR)
Que diferenças encontrou? (RELACIONAR/COMPARAR)
Em que rubrica? (CLASSIFICAR)
Quem deu mais relevo? Com que critérios? (HIERARQUIZAR)
Compare os dados obtidos com o tratamento dado aos mesmos acontecimentos pela versão on-line do canal:
Como encontrou as informações? (LOCALIZAR)
Onde está o menu no site? (LOCALIZAR)
Que imagens do programa reteve? (competência a desenvolver pela escola).

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